Published on: 1 de maio de 2025
O litoral do Espírito Santo guarda um dos mais fascinantes e complexos mosaicos de habitats marinhos do Atlântico Sul, resultado direto de sua geografia singular e do assoalho marinho diversificado. Essa combinação faz da região um verdadeiro refúgio de biodiversidade, fundamental para a manutenção de espécies raras e exclusivas, além de ser um laboratório natural para a ciência e um patrimônio para as futuras gerações.
Entre os destaques do assoalho marinho capixaba estão os recifes biogênicos, recifes rochosos, bancos de rodolitos (formações de algas calcárias), colinas coralinas e extensas áreas de areia e cascalho 7. Recentemente, pesquisadores da UFES, USP e da Academia de Ciências da Califórnia descobriram as Colinas Coralinas na cadeia Vitória-Trindade, um ecossistema único formado por algas coralináceas que chegam a 60 metros de altura e abrigam uma impressionante diversidade de peixes, tubarões e corais 2.
A costa do Espírito Santo é reconhecida por abrigar uma das maiores biodiversidades marinhas do Atlântico Sul, especialmente no sul do estado, onde arquipélagos como as Três Ilhas apresentam a maior diversidade de peixes recifais do país 5 8.
Expedições científicas já catalogaram mais de 105 espécies de peixes apenas entre Guarapari e Marataízes, além de dezenas de espécies de algas, invertebrados e corais. Na Ilha de Trindade e nos montes submarinos da cadeia Vitória-Trindade, foram identificadas 13 espécies de peixes endêmicas 3 — ou seja, que só existem nessa região e em nenhum outro lugar do mundo. Esse conceito é conhecido como "endemismo" e indica a relevância científica e ecológica da área.
O Espírito Santo não é apenas rico em peixes e recifes — é também um importante corredor ecológico para mamíferos marinhos. Golfinhos, baleias e até espécies de focas são avistados periodicamente na costa capixaba, tornando a região estratégica para conservação e pesquisa.
Entre os golfinhos mais comuns estão o boto-cinza (Sotalia guianensis), o golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) e o golfinho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis). Essas espécies usam o litoral como área de alimentação, reprodução e socialização, muitas vezes formando grupos com dezenas de indivíduos.
A toninha (Pontoporia blainvillei), um golfinho pequeno e extremamente discreto, é criticamente ameaçada de extinção e tem no Espírito Santo um dos últimos refúgios do Atlântico Sul.
Já as baleias-jubarte (Megaptera novaeangliae) são visitantes sazonais. Entre junho e novembro, elas migram das águas geladas da Antártica para as regiões tropicais do Brasil para dar à luz e amamentar seus filhotes. O Espírito Santo é uma das principais rotas migratórias dessas gigantes do mar, com registros frequentes feitos por pesquisadores e comunidades costeiras.
Esses mamíferos marinhos são considerados espécies "bandeira" — ou seja, sua presença indica a saúde geral do ecossistema e ajuda a mobilizar ações de proteção que beneficiam todo o ambiente marinho.
O Instituto ORCA atua há mais de 20 anos na proteção dos mamíferos marinhos do Espírito Santo. Integrando o Projeto de Monitoramento de Praias (PMP-BC), o instituto realiza resgates, reabilitação, necropsias, educação ambiental e coleta de dados científicos ao longo de mais de 50 km de costa.
Casos emblemáticos, como o resgate de um filhote de baleia-jubarte que reencontrou sua mãe após encalhar vivo, mostram o impacto prático da atuação do Instituto 7. Além disso, os dados coletados ajudam a entender padrões migratórios, causas de encalhes e estratégias para reduzir riscos de captura acidental.
A costa do Espírito Santo sofre com poluição, sobrepesca, ruído submarino, colisões com embarcações e impactos de grandes empreendimentos. O desastre ambiental causado pela Samarco-Vale-BHP levou rejeitos de mineração até áreas protegidas, afetando diretamente a fauna marinha 5.
Mamíferos marinhos estão entre os mais vulneráveis, pois dependem tanto da superfície para respirar quanto da integridade dos habitats submarinos. Investir em ciência, criar mais áreas protegidas e apoiar instituições como o Instituto ORCA são passos essenciais.
Em resumo:
O Espírito Santo guarda um tesouro submarino que vai muito além do que se vê à superfície. Sua biodiversidade — com espécies endêmicas e visitantes ilustres como baleias e golfinhos — transforma o litoral capixaba em um santuário marinho. Proteger esse patrimônio é garantir o futuro da vida marinha, da ciência e das comunidades que dependem do oceano.
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