Published on: 9 de maio de 2025
Era para ser mais um chamado comum na central do Instituto ORCA, em Guarapari (ES). Mas naquele dia, o telefone anunciou algo que mudaria a rotina da equipe: um filhote de baleia jubarte havia encalhado na Praia de Manguinhos, na Serra. O que se seguiu foi uma das mais emocionantes operações de resgate marinho já registradas no Brasil.
Ao receber o alerta, a equipe do Instituto ORCA mobilizou seu protocolo de emergência. O veterinário Ian Augusto Gusman Cunha, o diretor-executivo João Marcelo Nogueira, e outros profissionais da equipe checaram rapidamente equipamentos como binóculos, fichas técnicas, medicações e toalhas hússidas para hidratar a pele do animal.
"Estávamos com o protocolo na mão. Mas foi um atendimento atípico de um filhote que perdia muito sangue e tudo apontava para a eutanásia", relembra João Marcelo. A presença da mãe da jubarte nas redondezas, porém, mudou tudo. O filhote vocalizava ao ouvir os sons dela. Essa interação foi decisiva para a equipe insistir no resgate.
Durante mais de seis horas, a equipe manteve o animal hidratado, monitorou sinais vitais e administrou medicação para dor. Foram horas de tensão, esperança e cooperação intensa com parceiros como o Projeto Amigos da Jubarte e voluntários locais. "Mesmo ciente da quebra do protocolo, vimos que ali existia uma chance de arriscarmos tudo para salvar a vida do animal", diz João Marcelo.
Dias depois, o final feliz foi confirmado. O filhote foi visto nadando ao lado da mãe, com ajuda de imagens de drone. A cicatriz em meia-lua na nadadeira caudal não deixava dúvidas: era ela, "Jurema", viva e em movimento.
A complexidade e a coragem do resgate levaram a uma revisão do protocolo nacional de encalhe. A partir desse caso, o Brasil passou a permitir que a decisão sobre eutanásia de um animal encalhado seja feita diretamente pelo veterinário em campo, respeitando as condições reais e as possibilidades de sobrevivência.
"Vivemos o começo, meio e fim de uma história feliz mesmo diante de pouquíssimas chances", celebrou Thiago Ferrari, do projeto Amigos da Jubarte. Para o Instituto ORCA, a experiência foi mais que um sucesso técnico: foi a prova de que dedicação, empatia e ciência podem caminhar juntas.
Casos como o da jubarte "Jurema" são lembretes poderosos de que a conservação não é apenas um campo técnico. É um campo humano. Envolve decisões difíceis, coragem de ir além do previsto, e um compromisso com a vida em todas as suas formas. O Instituto ORCA, com três décadas de atuação, mostra que estar presente é muitas vezes o primeiro passo para mudar o final da história.
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