Published on: 13 de junho de 2025
O sol mal desponta e, em Guarapari (ES), uma pequena equipe já está de pé. No Instituto ORCA, a rotina não começa com cafezinho e e-mails. Ela começa com uma escuta atenta ao que o mar tem a dizer. Fundado em 1994 pelo médico Lupércio Araújo Barbosa, o ORCA se dedica, há três décadas, ao resgate, cuidado e estudo de animais marinhos. "É algo além da paixão. Já sacrifiquei minha vida financeira e social para manter o Instituto", afirma Lupércio.
Todos os dias, uma equipe enxuta mas altamente especializada está pronta para atender chamados de emergência: um golfinho encalhado, uma tartaruga ferida, uma baleia perdida. Em uma linha gratuita, qualquer pessoa no Espírito Santo pode acionar o resgate pelo 0800-039-5005.
Quando o telefone toca, tudo muda. Em minutos, a equipe verifica equipamentos (como binóculos, medicamentos, drones, fichas técnicas), define rotas e parte para o local indicado. É uma corrida contra o tempo, em uma operação que lembra o atendimento médico de urgência, mas voltado às espécies marinhas.
O Instituto ORCA é responsável por monitorar mais de 54 km de costa, passando por Serra, Vitória e Vila Velha. O deslocamento até o local do encalhe pode levar minutos ou horas, e cada segundo importa. No trajeto, protocolos são revisados e hábitos relembrados: cada espécie exige um tipo de abordagem. Cada vida importa.
"A equipe veterinária realiza avaliação de vários parâmetros fisiológicos e clínicos, para determinar a saúde do indivíduo e se o mesmo tem chance de sobrevida", explica o veterinário Ian Augusto. Essa primeira análise pode acontecer ainda no caminho, com base em relatos recebidos via rádio ou telefone.
Ao chegar, a equipe delimita o espaço, avalia sinais vitais e define o melhor caminho: reabilitação, devolução ao mar ou necropsia. Sempre com segurança, empatia e respeito ao animal. Em casos de óbito, os cuidados continuam. "A causa da morte pode ser um vírus, e o estágio de decomposição pode gerar patógenos transmissíveis", alerta Paulo Rodrigues, do Projeto Baleia Jubarte.
Alguns casos se tornam inesquecíveis. Como o do filhote de jubarte "Jurema", resgatado após horas de trabalho intenso. Contra todas as probabilidades, o animal sobreviveu e foi reencontrado dias depois, nadando ao lado da mãe. Um milagre científico que inspirou a revisão de protocolos nacionais de encalhe. "Vivemos o começo, meio e fim de uma história feliz mesmo diante de pouquíssimas chances", celebrou Thiago Ferrari, do projeto Amigos da Jubarte.
Mas nem sempre há final feliz. A orca encontrada morta com quase um metro de plástico no estômago é um lembrete brutal da urgência ambiental. "Encontramos algo como um tapete de carro, um plástico duro..." relata o gestor ambiental João Marcelo Ramos. O crescimento no número de encalhes também exige respostas: entre 2019 e 2024, a morte de golfinhos no litoral capixaba cresceu 105%.
O trabalho do Instituto ORCA não termina com o fim do atendimento. Na verdade, é nesse momento que começa uma fase silenciosa, mas essencial: o trabalho científico. Cada atendimento gera dados que alimentam bancos de informação sobre espécies, causas de encalhe, condições ambientais e padrões de ocorrência. Esses dados vão muito além das planilhas: eles são a base para diagnósticos ambientais, estudos de impacto e políticas públicas.
Hoje, o acervo científico do ORCA já embasou mais de 70 publicações nacionais e internacionais. As parcerias com universidades como UFES, UERJ e UENF mostram que o Instituto também é um núcleo de formação, colaboração e produção de conhecimento aplicado. É nos bastidores, entre tubos de ensaio, microscópios e laudos técnicos, que muitas das respostas às mudanças no oceano começam a tomar forma.
Por trás de cada atendimento, há uma decisão que nem sempre cabe nos protocolos: agir com empatia. "É um peso muito grande, pois envolve vários fatores para a decisão final do atendimento", diz Ian Augusto. E é justamente essa interseção entre ciência e sensibilidade que torna o trabalho da equipe tão potente.
Cada profissional do ORCA não atua apenas como técnico, mas como guardião de vidas que não têm voz. Lupércio, fundador do Instituto, resume bem: "Não é uma escolha profissional. É uma escolha de vida". Essa entrega vai além do expediente, do salário, do reconhecimento. É vocação pura.
Muito. O trabalho de conservação marinha não se sustenta sem a participação da sociedade. Ao ligar para o 0800-039-5005 ao avistar um animal em perigo, você já está fazendo parte da solução. Ao compartilhar informações corretas, evitar o lixo nas praias ou apoiar projetos como o Instituto ORCA, você reforça uma rede de proteção que é de todos nós.
Proteger o oceano é uma responsabilidade coletiva. E ela começa com pequenas atitudes. Visite nosso site, conheça mais sobre nossos projetos e inscreva-se na newsletter para acompanhar de perto o trabalho de quem vive todos os dias com o ouvido atento ao mar.